Tive a oportunidade de ter em mãos uma versão funcional do novo Isotope Goutte d’Eau 2.0 Stone Grey, que deverá ser lançado no próximo verão. Apesar de ainda não ser a versão final as impressões que gostaria de partilhar, creio, permanecem relevantes.
A sessão fotográfica deste modelo foi um refinamento de processos que explorei anteriormente e voltei a usar o ecrã plano de uma televisão avariada como fundo.
Visualizemos a cena organizada em quatro camadas principais:
O relógio posicionado sobre o ecrã numa dada posição.
A câmara montada num tripé e ajustada para o enquadramento desejado.
O difusor a cobrir toda a cena incluindo a câmara.
Uma fonte de luz contínua, equipada com softbox, projetada através do difusor.
Já várias vezes mencionei o uso da luz contínua como grande ajuda para um controle preciso na iluminação de um relógio. Usando luz contínua é possível visualizar imediatamente o seu efeito sobre o que se fotografa. Certo que um flash ou speedlight disparam uma luz mais detalhada, percorrendo todos os recantos dos objectos o seu uso implica tentativas e erros até ao melhor ajuste tornando-se um processo mais moroso.
Nesta situação particular a luz contínua permitiu também o controle exacto das sombras projectadas para que não fossem demasiado longas ou projectadas directamente na vertical, situação que uso quase exclusivamente para a vista frontal do relógio, o chamado soldat.
Menciono muitas vezes o difusor. O difusor é um objecto salvador que não deve ser subestimado na ajuda que representa quando se fotografa um relógio. É simplesmente uma tela composta por um tecido que permite a passagem de luz mas também a torna mais difusa e suave. Vem normalmente com reflectores em conjunto e de vários tamanhos.
Sempre que me perguntam qual o investimento racional a fazer para se começar a tirar fotografias de relógios num patamar acima, a resposta é sempre a mesma.
Câmera, lente (macro de preferência), tripé e difusores!
Sentir e Explorar o Relógio
É neste ponto que começa a parte mais envolvente da sessão: sentir o relógio, observar os seus detalhes, explorar como se articula e como se adapta a diferentes posições para criar o enquadramento perfeito.
O Isotope Goutte d’Eau 2.0 Stone Grey impressiona com o seu acabamento escovado, quase monocromático, realçado pelo ponteiro dos segundos em laranja e pelos números e marcações a negro. A bracelete, com a sua malha apertada e compacta, oferece articulação suficiente para permitir posições visualmente atraentes.
A caixa destaca-se pela sua forma especial, quase “seccionada” antes das asas, o que reduz o peso literal e visual. Esta escolha dá um maior protagonismo ao mostrador, reforçado pela ausência de uma luneta exterior. Todas as informações estão dispostas no interior, em diferentes níveis de profundidade, refletindo a essência de um verdadeiro diver.
Em fotografia macro, a tridimensionalidade do mostrador é um deleite. Apesar de ser uma versão de avaliação, não notei quaisquer imperfeições. O acabamento do mostrador, a estampagem e os recortes – que revelam as marcações em luminova num plano inferior – são absolutamente impecáveis.
Se menciono algo que à partida pode ser tão banal deve-se ao facto de duas décadas deste trabalho merecerem algumas vezes a célebre cantiga "se tu visses o que eu vi, solidó". Colocar este nível de qualidade de acabamento numa peça de avaliação revela valores que estão muito para além do simples relógio - é uma questão de postura da marca.
Detalhes e preparação
Antes de fotografar, o relógio e o ecrã devem ser limpos minuciosamente (o ecrã atrai pó como um sótão abandonado!). O relógio é ajustado para as 10h08 ou 10h09, para evitar que o ponteiro dos minutos cubra as marcações habituais aos 10 minutos e a coroa é mantida para fora para parar o movimento.
Após a captura, inicia-se a fase de edição. Por mais limpa que pareça a cena todas as imagens apresentam pó, partículas ou pequenas imperfeições quer no relógio, quer no fundo mesmo sendo tão uniforme como o de um ecrã que invariavelmente apresenta variações de cor e tonalidade, riscos e manchas que precisam de ser corrigidas.
O processo de edição inclui:
Recortar o relógio da imagem.
Uniformização do fundo: pintar o fundo de forma homogénea, mantendo a sombra do relógio. Esta cor serve de referência para todas as outras imagens. Este passo permite também o controle da sombra ainda mais em detalhe. Reparem como a sombra da imagem original é bastante mais projectada do que a da imagem final.
Reposicionamento: recolocar o relógio recortado no local certo na imagem.
Adicionalmente, ajusto detalhes como a posição da coroa (que é isolada e recolocada) e faço correções subtis nas tonalidades, reduzindo a saturação nos tons metálicos para realçar o acabamento em aço.
O último ajuste é um pouco do filtro "high pass" que falarei em detalhe noutra história.
Realizar uma sessão fotográfica deste tipo é moroso mas extremamente gratificante. O Goutte d’Eau 2.0 Stone Grey é o que costumo chamar de camera candy – um relógio que não só fotografa bem como oferece possibilidades criativas interessantes, graças ao seu design e sobretudo à bracelete que me deu um particular gozo captar.
Segundo José Miranda, responsável pela marca, estão a ser feitas melhorias no modelo: desde ponteiros com melhor design e legibilidade, mostradores mais claros, caixas com asas mais longas, até ajustes no mecanismo da luneta, na bracelete e no fecho extensível.
Fico ansioso por ver a versão final do Isotope Goutte d’Eau 2.0 Stone Grey, pois esta versão de avaliação já me deixou profundamente impressionado.
Hats off Isotope!