Algumas marcas têm vindo a criar departamentos dedicados à retoma de relógios para facilitar a aquisição de novos modelos aos clientes e submetê-los posteriormente a leilão para colecionadores da marca. Aqui ficam algumas considerações sobre fotografia de relógios usados.
Regra geral tratam-se de relógios de elevado valor que exigem imagens nítidas para uma eventual submissão a leilão mas que também precisam de manter um certo apelo visual.
A dualidade deste processo é evidente: por um lado, é necessário mostrar aos potenciais interessados o estado real do relógio; por outro, é essencial apresentá-lo de forma apelativa. Este equilíbrio nem sempre é fácil de alcançar e muitas vezes uma fotografia aparentemente simples pode exigir horas de trabalho.
Além destes desafios o recurso à macrofotografia torna-se incontornável. Se o objetivo é mostrar detalhes, então é necessário captá-los em profundidade.
Um exemplo interessante foi o Linde Werdelin SpidoSpeed Gold. Lançado em Baselworld 2011 numa edição limitada a 100 peças, este relógio foi fantástico de fotografar pela sua beleza mas também um desafio acrescido devido à quantidade de detalhes a captar.
Tudo começou com a decisão sobre a cor de fundo. Embora à primeira vista possa parecer um detalhe irrelevante nunca o é. Experimentei um tom de verde seco que, sendo uma cor fria, combina bem com o quente do ouro rosa. No entanto concluí que esse tom assumia um protagonismo excessivo e retirava recorte ao relógio.
O fundo preto, embora uma solução segura nem sempre é a mais apelativa. Casualmente obtive um resultado interessante ao captar o SpidoSpeed Gold sobre o ecrã de um monitor avariado. Na prática o ecrã é negro mas adquire um tom cinzento-antracite graças ao posicionamento de um difusor sobre toda a cena.
Com a luz próxima a projetar sombras estas mantêm-se marcadas evitando o risco da imagem parecer plana e dando volume às formas.
Num relógio usado o primeiro ponto que analiso são as arestas pois são as zonas mais propensas a sofrer toques, especialmente num relógio de ouro devido à suavidade do material.
Outras áreas que verifico são as grandes superfícies planas que estão sujeitas a riscos mais visíveis, assim como a coroa e a rosca que frequentemente podem exibir sinais de corrosão devido a apertos inadequados e ao consequente contacto com a água.
Quando o relógio possui superfícies escovadas, é sempre importante captar estas áreas, pois revelam se existiram polimentos anteriores e se tal aconteceu a textura do escovado torna-se menos pronunciada.
Outras tarefas essenciais são captar as vistas laterais, a traseira, a báscula e a correia, procurando sempre manter uma uniformidade visual no conjunto das imagens.
Ao fotografar um relógio de forma mais afastada incluindo na cena adereços como um bloco, uma caneta uns óculos de sol ou quaisquer outros, a tarefa do fotógrafo torna-se mais simples. Quantos mais elementos no plano maior será a distração visual e o relógio, embora seja o centro da composição, partilha protagonismo com os restantes objetos.
Contudo, quando o objetivo é apresentar um relógio usado para leilão ou revenda, este deve ser o absoluto protagonista. Nada deve desviar a atenção visual do interessado. E, frequentemente, são essas imagens aparentemente simples que exigem mais trabalho e experimentação.
Haveria muitos outros acertos a fazer e não é o objectivo desta história dar este trabalho como um exemplo de boas práticas mas lançar ideas e partilhar as minhas soluções técnicas.
Perguntaram-me há dias o que era para mim ser fotógrafo de relógios e o que era, para mim, a fotografia de relógios e apesar da profundidade da questão a resposta é simples; a fotografia de relógios são um conjunto de acções técnicas realizadas com equipamentos especializados. Consequentemente o fotógrafo é o técnico que opera esses equipamentos e que se coloca ao serviço das marcas e do seu produto/relógio.
Trabalhei muitos anos numa revista de alta relojoaria portuguesa e a dada altura devido a uma reformulação da ficha técnica foi-me perguntado como designaria as minhas funções.
A minha resposta foi, sem sarcasmo mas sempre mal entendida, "Operador de equipamentos fotográficos e informáticos".​​​​​​​

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